[Resenha] - As intermitências da morte – José Saramago

E se a morte resolvesse dar uma trégua? Ainda que só por um tempo? O que aconteceria com o mundo? E você, como reagiria?
Em as intermitências da morte é esse o cenário que o escritor português José Saramago explora, em um estilo crítico, analítico e fantástico.
A história é narrada em terceira pessoa por um narrador que analisa cada passo dado no enredo e as consequências do fato na vida da pessoa envolvida. 
A história é dividida em três partes. A primeira é o desaparecimento da morte e as consequências do fato nas vidas das pessoas, da igreja, do estado e das em empresas. A segunda narra o reaparecimento da morte quando não morrer já havia se tornado algo comum, como se não morrer houvesse sido algo que sempre existiu. Durante esses dois tomos a única personagem fixa é a morte, vez por outra aparece um a personagem cinza que some da história tão rápido como apareceu, e exemplo disso é o padre, o primeiro ministro, a realeza, o diretor televisivo, o filósofo... Já a terceira parte mostra o segundo personagem – um músico que sem querer e sem saber consegue burlar a morte e seu novo sistema de aviso de óbitos.
Vemos vários recursos estilísticos no enredo, mas um dos mais perceptíveis é o diálogo que o narrador mantém com o leitor, como quando ele se põe a explicar como é possível a morte ter dinheiro pra pagar a entrada do concerto.
O livro defere dos demais, não todos, mas grande maioria, dos livros do século XXI pois vemos a questão analítica da sociedade, muito presente no realismo e no modernismo, mas pouco comum hoje em dia. E prova máxima disso é que se o livro for bem interpretado se verá que apesar do “milagre” ocorrido, a vida das pessoas não mudou muito; ainda havia violência, organizações criminosas, governos auto protetores e organizações religiosas hipócritas. Os grandes enigmas do livro são: passamos a vida tentando evitar a morte, mas se a grande inimiga do homem desaparecer, qual será o novo sentido da vida? Pessoas infelizes seriam infelizes para a eternidade? Perguntamo-nos o que faríamos se só tivéssemos um dia, mas se tivéssemos a eternidade, o que faríamos?
O livro termina com um final inesquecível e surpreendente ao acompanharmos desde alguns capítulos antes a humanização da morte. É um livro que já foi adaptado para peças teatrais, possui uma leitura um pouco complicada, mas que vale à pena de ser lido e relido.


Resenha por Lucas Teixeira

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